ASSISTENCIALISMO EM XEQUE
- Eliete Carvalho
- 28 de jan. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de abr.

Um cronista escreve sempre a partir de acontecimentos. É a vida cotidiana o combustível necessário para a composição da crônica. Assim, eu não poderia deixar de escrever sobre o que se comenta em Palmares: a recente fala do prefeito.
Disse ele: “Não quero nenhum político dentro da Saúde”. Essa fala provocou muitos murmurinhos e comentários na cidade toda. A fala, diga-se de passagem, não está muito clara. Qual é a intencionalidade? Barrar o assistencialismo desenfreado, praticado por políticos que usam o sistema de Saúde para se promover e ganhar visibilidade nas eleições para vereadores? Ou será inibir que vereadores cumpram o papel constitucional de fiscalizar?
Polêmicas à parte, o fato é que a população está cansada de ver políticos usufruindo do sistema de Saúde para benefício próprio. Eles retiram o que já é do povo — como consultas, exames e cirurgias —, furando a fila de espera dos usuários, para dar o “jeitinho” e, com isso, angariar votos de quatro em quatro anos.
A fala do prefeito foi muito apoiada e aplaudida por muitos palmarenses. Eu, quando escutei a fala, logo imaginei que o assistencialismo está com dias contados. Foi essa a minha interpretação. O assistencialismo praticado na Saúde é crônico, precisa ser freado urgentemente. Chega a ser vergonhoso e escandaloso os currais eleitorais formados dentro dos espaços públicos, como é o caso da Saúde. O absurdo é tanto que a população já nem quer mais procurar um posto de saúde. O negócio é procurar um vereador. Ele tem como “ajudar” e resolver a necessidade do eleitor. Assim, o favor será pago para o resto da vida. E a moeda de troca é justamente o voto.
Essa prática rotineira e populista, disfarçada de trabalho prestado, causa um dano enorme à população. E um dos males é eleger político sem as mínimas condições de representar o povo. Por exemplo, entrar mudo e sair calado de reuniões em Câmaras Municipais não é mais nenhuma novidade, já virou moda.
A fórmula para a manutenção de muitos políticos no poder vem da prática do assistencialismo. Romper esse paradigma político requer coragem e enfrentamento ao ciclo vicioso que se estabeleceu por décadas no serviço público. A Saúde de Palmares merece um atendimento de qualidade, justo e sem troca de favores. Dizer não ao assistencialismo é dizer sim ao direito de todos/todes/todxs à assistência de saúde digna. Isso não impede que vereadores fiscalizem o sistema — aliás, é o seu papel. Fiscalizar, criar leis e acompanhar as ações do Poder Executivo, buscando sempre a transparência dos recursos financeiros, para que a população também acompanhe o que está sendo feito com o dinheiro do povo.
Resta saber agora como o prefeito vai materializar a sua fala. Ele precisa informar a população como será o novo sistema de marcação de consultas e exames. Espero que a fala do prefeito se transforme em documento oficial e que seja anexada nos anais da Secretaria de Saúde para que se cumpra. Vamos ver o que vai acontecer daqui para frente. Uma coisa foi certa: a fala incomodou e causou um reboliço danado, deixando muita gente de orelhas em pé.
* Eliete Carvalho___Blog Letras & Livros
Palmares, 26 de janeiro de 2021
Comments