top of page

Cidadezinha palmarense

  • Foto do escritor: Eliete Carvalho
    Eliete Carvalho
  • 17 de jan. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de abr.


Às vezes, penso alto. E quando estou diante de um computador, sinto um desejo enorme de desabafar, de escrever. São várias as noites em que essa vontade me invade. Hoje, senti mais uma vez. Peço, então, ao leitor desta crônica, que respeite meu ponto de vista sobre o olhar da cidadezinha palmarense.


Começo explicando o título "Cidadezinha palmarense", que me remete a um poema de Drummond chamado "Cidadezinha qualquer". O poema exalta a monotonia da cidade, a falta de acontecimentos. Tudo nela anda muito devagar. Ao lê-lo, quase conseguimos sentir o tédio de morar no interior. A vida chega a ser besta, uma pasmaceira total.


Na cidadezinha palmarense, acontece a mesma coisa — ou melhor, não acontece nada. E não adianta me pedir para "tirar os óculos da cara", porque respeito é bom e eu gosto. Nada mudou. Tudo continua como antes. Melhor dizendo, como nunca se viu antes. Parece até que, na cidadezinha, não existem mais pessoas que pensam, que têm sonhos, vontades, o direito de concordar, discordar, ir e vir — ou até mesmo o direito à liberdade de expressão. Se alguém se manifestar contra a cidadezinha, corre o risco de "desobedecer a Sua Majestade, o Rei".


Mas tudo na cidadezinha palmarense é um disse-me-disse, um leva-e-traz. É porque Fulano disse isso, Sicrano disse aquilo... E começa a caça às bruxas. Ai daquele que discordar do Rei: vai direto ao purgatório, sem chance de defesa. Como se as pessoas não pudessem pensar diferente. Sem falar nos pequenos reizinhos espalhados pela cidadezinha, todos com plenos poderes do Rei. Isso, diriam os mais antigos, só pode ser coisa de cidade pequena mesmo. Eu, particularmente, desconheço alguma cidade grande onde ainda existam reis. O tempo da monarquia já passou. Já se foram mais de cem anos do sistema monárquico. Mas por que será que a cidadezinha palmarense ainda não acordou? Será que o reinado é bom? Penso, cá comigo, que não encontrarei resposta tão cedo — porque, na cidadezinha, as pessoas têm medo de falar.


Assim, caro leitor, acontece também em outras cidadezinhas por aí. O cenário catatônico é sempre o mesmo: existe um Rei, o Rei é o detentor da verdade, está acima de qualquer suspeita. Só ele faz, só ele desrespeita, só ele manda e desmanda. E a cidadezinha vai, infelizmente, caminhando... caminhando... caminhando, como se nada acontecesse.


A cidadezinha palmarense não é diferente das demais. É incrível, a cidadezinha palmarense. Está sempre pronta para receber um novo F U X I C O. Aguarde o próximo.


*Eliete Carvalho, Blog Letras&Livros

Comentários


  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon

Explore

© 2020 por Pérola Sofia. 

bottom of page