ASSIM VEJO O MUNDO
- Eliete Carvalho
- 25 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de abr.

Acabo de ler o livro "ASSIM VEJO O MUNDO", escrito pelo acadêmico palmarense Reginaldo José de Oliveira e publicado pelas Edições Bagaço. A obra nos convida a refletir sobre as condições de vida do personagem principal, João Romeiro, e sua cachorrinha Bacana — um andarilho que, conscientemente, recusa-se a se encaixar nos padrões da sociedade moderna. E ele faz questão disso.
João Romeiro é um personagem cativante. Mesmo sendo nômade, muitas vezes desprestigiado e tratado com indiferença nas ruas, possui uma coragem e inteligência ímpares. A impressão que tive é que ele entende de tudo um pouco: filosofia, sociologia, geografia, história. Melhor dizendo, é um autodidata. Aprendeu com a vida, com as experiências colhidas em suas andanças pelo país, conhecendo pessoas, ouvindo e dando conselhos repletos de sabedoria.
A forma como João Romeiro se posiciona diante do mundo e das experiências que vive desperta no leitor uma vontade de conhecê-lo pessoalmente — e até entrevistá-lo, por que não? Foi o que fez o autor, com muita competência, extraindo o melhor do entrevistado e compartilhando uma história até então desconhecida, inusitada e incomum para um nômade.
O que mais chama atenção no livro é a maneira como João Romeiro se relaciona com as pessoas que encontra em seu caminho. Em todos os lugares, há alguém que recebe seus conselhos valiosos — palavras que elevam a autoestima, resgatam valores sociais e morais e fortalecem vínculos familiares. Quem conversa com ele logo percebe: é um homem à frente de seu tempo.
O que mais me cativou em João Romeiro foi sua capacidade de análise crítica do mundo, feita de forma simples e enfática. E, a meu ver, é isso que justifica o título do livro: "ASSIM VEJO O MUNDO". Para ilustrar sua visão, destaco uma de suas falas:
“Vivemos numa sociedade em que indivíduos são escravos do consumo de coisas inúteis e desnecessárias. A corrupção chegou a níveis insuportáveis e generalizou-se, corroendo todo o tecido social. Há um grande desencanto. Reina grande ausência de esperança e de expectativas.”
Com essa percepção aguçada, o personagem tem plena consciência de quem é e do que observa ao seu redor. O livro traz diversas passagens em que ele discute não apenas questões do século XXI, mas também temas como liberdade, juventude, velhice e o futuro da humanidade. Além disso, as citações bíblicas que permeiam a narrativa aproximam a história de uma reflexão humanista e antropocêntrica. A fé, a positividade e a esperança — essa trilogia mostra que, muitas vezes, o homem precisa de muito pouco para viver e ser feliz.
João Romeiro possui apenas uma bicicleta, sua cachorrinha Bacana e uma mochila de artesanato — da qual tira seu sustento. É um nômade por opção. Deixou para trás casa, família e emprego para viver como andarilho. Mesmo assim, não reclama da vida; pelo contrário, é um homem de muita positividade e fé.
O livro "ASSIM VEJO O MUNDO" é, acima de tudo, um convite para que reflitamos sobre nosso papel no mundo. É possível viver e ser feliz com pouco, como fez João Romeiro. É preciso, mais do que nunca, substituir o TER pelo SER. Como ele mesmo diz:
"O sistema induz o jovem a consumir, oferecendo-lhe a ilusão de ser feliz. O ter, em demasia, é a grande tônica. Por outro lado, quando os anseios não são satisfeitos, surgem a ansiedade, o estresse, a depressão e, não raro, tudo isso deságua no suicídio."
O grande ensinamento da obra — e de João Romeiro — é desapegar-se de tudo aquilo que nos faz sofrer, nos aprisiona, nos escraviza e nos adoece.
*Eliete Carvalho, Blog Letras&Livros
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