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POEMA TREM DE ALAGOAS

  • Foto do escritor: Eliete Carvalho
    Eliete Carvalho
  • 13 de set. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de abr.


Por Eliete Carvalho

A poesia de Ascenso é “produto” do meio no qual ele esteve inserido — O Nordeste.

(Souza Barros)


O poema “Trem de Alagoas” é uma das obras-primas do poeta Ascenso Ferreira. Na época, foi musicado pelo maestro Villa-Lobos e tornou-se um dos poemas mais lidos e recitados em escolas, bibliotecas, recitais, rodas de leitura, teatros e também amplamente divulgado nas mídias digitais, sites e blogs. Trata-se de uma composição em versos livres que narra uma viagem para Catende no “Trem de Alagoas”. O poeta passeia pelo som do sino, do apito e pela paisagem que o trem atravessa. Nota-se que o eu lírico, à medida que observa o percurso, expressa seu olhar sobre quem fica e sobre o que fica, como a belíssima paisagem da zona canavieira, enquanto avança pela cultura nordestina. Um poema magistral, publicado em "Cana Caiana", em 1941.


Em “Vou danado pra Catende / Vou danado pra Catende / Com vontade de chegar”, percebe-se que o trem parte e ganha velocidade rumo ao seu destino. Ao longo da viagem, a paisagem, a vegetação, os canaviais da Zona da Mata pernambucana, a meninada que brinca e a morena de cabelo cacheado compõem o cenário do Trem de Alagoas. O eu poético distancia-se do ponto de partida e, aos poucos, despede-se com a repetição de “Adeus! Adeus!” — sinal de que o trem segue a todo vapor, cumprindo seu trajeto.


Um recurso estilístico marcante no poema é a aliteração, figura de linguagem que enriquece o ritmo, criando um efeito sonoro expressivo, como em: “Mergulham mocambos / nos mangues molhados / moleques mulatos / vêm vê-los passar”.

Essa construção não é aleatória: quem lê o poema logo identifica a cadência e a sonoridade dos versos. A repetição do fonema “m” no início de cada palavra confere leveza e musicalidade à leitura. A estrofe remete à alegria da molecada ao ver o trem passar, divertindo-se enquanto a locomotiva segue seu destino. A aliteração também aparece em outras estrofes, reforçando os efeitos sonoros e rítmicos do poema.


Já nos versos “Ali dorme o Pai-da-Mata / Ali é a casa das caiporas”, o poeta remete ao folclore brasileiro, em especial às lendas do Nordeste. Ambas as figuras — o Pai-da-Mata e a Caipora — são representativas da tradição e da cultura nordestina, transmitidas por gerações e ainda vivas no imaginário popular. Dizem que são protetores das florestas. Ao incorporar esses elementos, Ascenso Ferreira valoriza as lendas, a memória e a identidade do povo nordestino. Viva o poeta Ascenso Ferreira! Poeta que cantou o Nordeste e suas gentes.


TREM DE ALAGOAS - ASCENSO FERREIRA

O sino bate,

o condutor apita o apito,

Solta o trem de ferro um grito,

põe-se logo a caminhar…


– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

com vontade de chegar…


Mergulham mocambos,

nos mangues molhados,

moleques, mulatos,

vêm vê-lo passar.


– Adeus !

– Adeus !


Mangueiras, coqueiros,

cajueiros em flor,

cajueiros com frutos

já bons de chupar…


Adeus, morena do cabelo cacheado!

Mangabas maduras,

mamões amarelos,

mamões amarelos,

que amostram molengos

as mamas macias

pra a gente mamar


Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

com vontade de chegar…


Na boca da mata

há furnas incríveis

que em coisas terríveis

nos fazem pensar:


– Ali dorme o Pai-da-Mata

– Ali é a casa das caiporas


– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

vou danado pra Catende

com vontade de chegar…


Meu Deus ! Já deixamos

a praia tão longe…

No entanto avistamos

bem perto outro mar…


Danou-se ! Se move,

se arqueia, faz onda…

Que nada ! É um partido

já bom de cortar…


– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

vou danado pra Catende

com vontade de chegar…


Cana caiana,

cana rôxa,

cana fita,

cada qual a mais bonita,

todas boas de chupar…



– Adeus, morena do cabelo cacheado !

– Ali dorme o Pai-da-Matta !

–Ali é a casa das caiporas


– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

vou danado pra Catende

com vontade de chegar…


Eliete Carvalho ____Blog Letras & Livros

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