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ENSINAR OU NÃO A GRAMÁTICA?

  • Foto do escritor: Eliete Carvalho
    Eliete Carvalho
  • 18 de fev. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de abr.



A pergunta do título remete à célebre frase de Shakespeare: "Ser ou não ser, eis a questão". Diante desse dilema, o que cabe ao professor de Língua Portuguesa? Se optar por ensinar gramática, corre o risco de ser considerado tradicional — e, no senso comum, "tradicional" muitas vezes equivale a "ultrapassado". Se escolher não ensiná-la, pode ser acusado de não ensinar nada ou de "enrolar" os alunos.


Então, o que fazer? O tema é complexo e gera polêmica, especialmente quando se trata do ensino da língua materna nas escolas. Há duas possíveis respostas: a primeira é defender a gramática, mas destacando sua importância no texto. Nesse caso, a gramática não é negada, porém o texto nem sempre é explorado como deveria, servindo apenas como pretexto para a análise de regras gramaticais.


Essa metodologia, adotada por muitos professores, ainda é comum nas escolas. Ou seja, ensina-se com e a partir do texto, mas a gramática acaba roubando a cena nas aulas de Português. Conceitos essenciais — como coesão, coerência, (inter)textualidade, intencionalidade, inferência e gêneros textuais — são deixados de lado em nome da gramática no texto.


A segunda opção é posicionar-se contra o ensino da gramática. Muitos defendem que o estudo de regras e de frases soltas, descontextualizadas e sem significado para o aluno, não contribui para o desenvolvimento das competências linguísticas contemporâneas. Nessa perspectiva, o professor critica a gramática e reconhece que o ensino de Português precisa ser significativo.


Ambas as respostas convergem para um mesmo ponto: o ensino de Língua Portuguesa precisa ser revisto. Com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), o que antes era objeto de debate — como o estudo de regras e frases isoladas — deu lugar a abordagens metodológicas inovadoras, como as linguagens multimodais e a semiótica. A gramática não é descartada, mas deixa de ser o centro, evitando-se a fixação em categorias gramaticais desvinculadas das práticas sociais.


Na prática, essa mudança levará tempo para se consolidar, até que todos os professores se apropriem das novas diretrizes. Como ressalta Castilho (2000, p. 13): "As mudanças sociais do país e o atual momento de transição de um paradigma científico para outro colocaram os professores de Língua Portuguesa numa situação desconfortável com respeito a 'o que ensinar', 'como ensinar', 'para quem ensinar' e, até mesmo, 'para que ensinar'".


O problema, portanto, não está em ensinar ou não gramática. Como bem afirma Irandé Antunes em "Os mitos que se têm em torno do ensino da gramática" (Anais do Congresso Internacional de Práticas Educacionais, 2005): "A solução não é deixar de ensinar gramática; é, ao contrário, ensinar muito mais que gramática".


Cabe ao professor desenvolver as competências linguísticas do aluno, entendendo que o conhecimento não pode ser estanque nem obsoleto. Ensinar ou não gramática não é uma simples escolha, mas um desafio — afinal, "ninguém fala, ouve, lê ou escreve sem gramática, é claro; mas a gramática sozinha é imensamente insuficiente" (Irandé, 2005).



Eliete Carvalho___Blog Letras & Livros

Imagem: Google




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