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ONDE ESTÁ O SUJEITO OCULTO?

  • Foto do escritor: Eliete Carvalho
    Eliete Carvalho
  • 20 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de abr.

Nas gramáticas tradicionais e nos livros didáticos, aprendemos desde cedo a fazer sintaticamente a classificação do sujeito em: simples, composto, oculto, indeterminado ou inexistente. Muitas vezes, não nos questionamos sobre tal classificação; o que vale é o que está nas gramáticas. Mas uma das classificações, trazida pela maioria das gramáticas, chamou-me a atenção: o sujeito oculto.


Segundo as gramáticas, a definição de sujeito oculto é aquele que não aparece escrito na frase, mas está subentendido na oração. Muitas gramáticas definem-no também como sujeito desinencial. Exemplos como:


  1. Fomos ao supermercado às 13h.

  2. Não consigo parar de ler este livro biográfico.

  3. Oh! Querida, és minha musa inspiradora.


Sabe-se quem é o sujeito; porém, ele não está grafado na frase. Essa, pelo menos, é a resposta trazida por muitas gramáticas. Esses exemplos, e vários outros dados como referência para o estudo do sujeito oculto, infelizmente deixam muito a desejar. Primeiro, as frases têm sujeito. Segundo, sabemos quem praticou a ação. Terceiro, o sujeito está claro (Nós, Eu, Tu). Mas o que quer dizer "está oculto"? O sinônimo de oculto é escondido ou camuflado. Não há razão para defender esse tipo de sujeito, pois algo que está escondido não aparece, o que não é o caso dos exemplos acima.


Ora, só há três tipos de sujeito: o sujeito determinado (simples e composto), o indeterminado e o inexistente. Onde está o sujeito oculto? Esta é uma pergunta que me faço desde o tempo em que estudava na faculdade. Até hoje, procuro entender por que os gramáticos insistem nessa classificação, que, no meu entender, não tem consistência alguma. Por que o sujeito é oculto? Como pode ser oculto se o identificamos na oração? Perguntas como estas as gramáticas não estão aptas a responder, e o professor muitas vezes não tem onde recorrer, pois a maior parte delas traz as mesmas definições, assim como os mesmos exemplos. Isso implica dizer que são verdadeiras réplicas. Nesse sentido, as gramáticas tendem a ser exaustivas e, mais ainda, fazem uso de classificações duvidosas, como é o caso do sujeito oculto.


Nas frases acima, verificamos que o sujeito está claro. Ele mereceria, sem dúvida, ser classificado como sujeito simples. Até porque o sujeito está presente na frase. Quando fazemos perguntas para descobrir quem é o sujeito, não há dúvida alguma. O sujeito aparece. Mas quantos de nós, professores, ajudamos nossos alunos a refletir sobre o que está sendo ensinado pelas gramáticas? Acredito que quase nenhum. O que fazemos, infelizmente, é mostrar ao aluno o chamado "pacote gramatical", sem nenhuma reflexão. Como se a gramática fosse o lugar absoluto das certezas.


O que estou discutindo aqui muitos professores podem até questionar, mas a intenção é mostrar que há muitas definições e exemplos de natureza duvidosa nas gramáticas. Portanto, cabe ao professor, usuário assíduo das gramáticas, o papel de investigador. Só assim faremos de nossas aulas de português o ponto de chegada para o exercício do pensar crítico.


Eliete Carvalho ___Blog Letras & Livros

Palmares, 19 de maio de 2020


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