Linguística Textual e Ensino de Língua Portuguesa
- Eliete Carvalho
- 23 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de mar. de 2020
O Jornal na Sala de Aula

A Linguística Textual, dos anos 60 até os dias atuais, tem se dedicado ao estudo do texto para além dos limites da palavra, frases ou períodos sintáticos. Para isso, estudiosos de várias correntes, interessados nos processos constitutivos da textualidade, vêm contribuindo com pesquisas de diferentes temáticas linguísticas, entre elas, a Análise do Discurso, a Análise da Conversação, a Pragmática Textual e as Teorias da Enunciação.
O ensino de Língua Portuguesa perpassado pelas teorias linguísticas, certamente, torna-se mais significativo e produtivo, na medida em que o texto – objeto de estudo da Linguística Textual – passa a fazer parte das análises e discussões da língua em uso. É preciso ler e entender muito além das categorias gramaticais, completamente desprovidas de contextualizações e sentidos. Não restam dúvidas de que o texto precisa ocupar o lugar de destaque em ambientes de letramento, como é o caso das escolas, e, mais especificamente, a sala de aula.
Assim, será necessário aproximar os jovens da leitura e da escrita de vários gêneros textuais que circulam cotidianamente - principalmente os jornalísticos – tendo em vista que diversos são os propósitos comunicativos da mídia impressa e virtual. Ler para aprender, para pesquisar, para buscar informação, para se divertir, enfim, para escrever. São ações indispensáveis para as práticas de leitura e escrita na escola. Dessa forma, o texto é elemento basilar para o trabalho com a língua materna. Ter o que dizer e saber como dizer, encontra, nos gêneros discursivos, presentes nos jornais, numerosas possibilidades de interações entre texto, leitor e sociedade.
É sabido que toda atividade linguística existe porque há necessidades diárias de comunicação. Ninguém fala ou escreve aleatoriamente. Todo ato de fala ou escrita projeta-se, naturalmente, nos gêneros discursivos. Afinal, inúmeras são as situações de uso da língua que se realizam através dos gêneros discursivos. Por isso, não se pode negar a importância deles ao se ensinar e aprender língua portuguesa.
Nessa direção, apontam-se como proposta pedagógica, os gêneros discursivos do jornal, tais como: notícia, charge, carta do leitor, artigo de opinião, anúncio de classificados e propaganda. Cada um desses gêneros é caracterizado dependendo de seus propósitos comunicativos: informar, opinar ou anunciar. Eles são encontrados diariamente na mídia impressa ou virtual e podem ser explorados como estratégias de processamento textual, mobilizando três dimensões de conhecimento: o linguístico, o enciclopédico e o interacional. (ver Koch, 2000).
Essas três dimensões, se estudadas com atenção, a partir da leitura, compreensão, interpretação e da produção escrita dos gêneros textuais dos jornais, acionam saberes voltados ao entendimento global do texto. Por exemplo: o conhecimento linguístico corresponde ao conhecimento gramatical e ao léxico. O enciclopédico tem a ver com o conhecimento de mundo do locutor. Já o interacional ou sócio interacional é o conhecimento sobre as ações verbais, ou seja, as formas de inter-ação mediada pela linguagem. Algumas discussões do campo situacional também merecem entendimento: quem produz o texto? qual é o interlocutor? qual é a finalidade e a que gênero pertence? Diante dessa mediação, o texto tende a ser explorado não como um produto acabado, pronto, mas como processo, um todo que estabelece sentidos.
A leitura do jornal, no espaço da sala de aula, portanto, aprimora a capacidade de interação do aluno leitor com o mundo; seja refletindo, seja dialogando, seja produzindo seu próprio texto. Não restam dúvidas de que o jornal fornece a “matéria-prima” para as práticas diárias de leitura e escrita, confrontando-se a língua coloquial e os usos normativos do idioma para além das análises gramaticais.
Nessa perspectiva, os gêneros discursivos do jornal – objeto de estudo nas aulas de língua portuguesa - são valiosos suportes pedagógicos de incentivo à leitura, à pesquisa e à produção textual. Portanto, o uso do jornal na sala de aula, além de contribuir com propostas práticas, eficazes e viáveis quanto à aprendizagem da leitura e da escrita, forma produtores de textos eficientes, capazes de interagir com as múltiplas situações da língua em uso.
Eliete Carvalho __Blog Letras & Livros
Imagem: Google
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